DEUS - AMORIntrodução
Para começar, gostaria de partilhar convosco um texto que escrevi há cerca de nove anos. Surgiu-me num daqueles momentos raros de inspiração, sem que eu tivesse tempo de pensar cada palavra. Muitas foram as vezes que me interroguei sobre a origem do texto. Nunca pus de parte a hipótese deste ter sido inspirado por alguém, embora não tenha aprofundado tal possibilidade. Vejo as palavras como o vento, libertas de amarras ou obstáculos, senhoras de si mesmo sem donos nem patronos. O texto, escrito por mim ou por alguém através mim, vale pelo conteúdo que cada um de vocês, individualmente, encontrar em cada palavra. E quando assim acontece, estas deixam de ser daquele que as disse, para passarem a ser daquele que as interpreta; deixam de ser as palavras daquele que as escreveu, para passarem a ser as mesmas palavras que já existem dentro de cada um de nós. Não é por isso importante saber a fonte da sua proveniência, pois se as tomarmos como nossas, na compreensão que delas fizermos, então é porque também nos pertencem.
Deus - Amor
Muitos de vós interrogai-vos sobre a natureza e origem de Deus. Quem é afinal esse ser que nos motiva na fé de tantas religiões? Digo-vos que Deus não é uma ideia nem tão pouco uma teoria. Se o procurarmos na racionalidade dos nossos próprios preconceitos, nada poderemos vivenciar. Deus não é para ser teorizado, mas sim interiorizado na fé que soubermos construir através da intuição: esse murmúrio eterno que nos chega sem nunca nos ter deixado. Se procurais Deus, deveis olhar para vós próprios, compreendendo que em nós estão todas as respostas. Mas quem é Deus, afinal? Digo-vos que ele é a água que corre em cascata nos riachos da montanha, é as árvores que se curvam delicadamente sobre a brisa das planícies, dando voz ao vento que nelas se torna presente. Ele é o voo suave dos pássaros, a voz cristalina de uma manhã deliciosamente pronunciada na saudade de um tempo onde tudo era perfeito. Ele é a luz espreguiçada de um sol que nos alimenta, a espuma rebelde de um mar tornado consciência nas memórias de um futuro que se pressagia equilibrado. Ele somos nós; cada um no olhar contrário de todos os outros. Conhecer Deus é sabê-lo na natureza de toda a criação, compreendendo que todos somos um só. Um único ser, uma mesma consciência. Contudo, a verdade por Ele transmitida não pode ser martelada na mente do Homem, pois este nada compreenderá. Tem que nascer na interioridade de cada um, motivada pela força concreta de um caminho por nós iniciado. De nada serve todo o conhecimento que possamos adquirir se em nós não existir a vontade necessária para lhe dar forma e conteúdo. É que a virtude não está na verdade, mas no empenho que fizermos para alcançá-la. Apenas quem souber segurar as palavras na sua essência mais profunda, cultivando-as como sementes de uma árvore por germinar, poderá verdadeiramente compreender todos os ensinamentos que lhe são propostos. E estes, como muitos já sabem, resumem-se a um único mandamento: Amar a todos como a nós próprios. Se compreendermos que na existência contrária de vidas que não a nossa, tudo se harmoniza numa mesma identidade, então facilmente poderemos aceitar a ideia de que essas vidas, afinal, não são assim tão contrárias. Todos somos seres humanos e nisso nada nos distingue. Assim, deixar de amar alguém é não amar uma parte nós próprios, já que essas pessoas também são UM connosco. É dizer que eu amo a minha mão direita mas não amo a minha mão esquerda, e se eu não amo a minha mão esquerda então não posso amar o corpo por inteiro. Iludam-se aqueles que julgam que é possível amar uma mão e não amar a outra, pois se é verdadeiro amor que sentimos pela primeira, forçosamente teremos que amar a segunda caso contrário nada sabemos do amor. O amor, no entanto, não pode ser repartido segundo as nossas necessidades. Ele é único na sua essência, pois nada existe para além dele. É como a voz da mãe que chega ao útero vindo de fora; um murmúrio suave que nos chega sem nunca nos ter deixado, que nos transporta sem nunca nos ter levado. É como a voz do vento que traz até nós as fragrâncias da nossa terra, como o serpentear do ribeiro que nasce na cascata da montanha e que nos faz recordar o futuro de uma existência onde nos tornaremos um só com Deus. Digo-vos que o amor é a razão que motiva todo o universo, a força vital inerente a toda a criação. É único, indivisível. É isso que Deus espera de nós. Que saibamos amar a todos, pois só assim é que verdadeiramente poderemos senti-Lo, compreendê-Lo e Sê-Lo.